Natal de Verdade

Reflexões Verdadeiramente Natalinas

Cura para o Natal: coloque os sofrimentos em palavras

Por Bob Kellemen

Segunda Parte

C. S. Lewis escreveu: “Deus sussurra para nós em meio aos nossos contentamentos, fala conosco em nossa consciência, mas grita em nossa dor: ela é seu megafone para despertar um mundo surdo”. A perda sempre dói e as festas de final de ano são como um megafone amplificando essa dor. Ou, para a nossa geração, como o controle de volume em seu iPod – as festas podem intensificar e aumentar a dor.

Na primeira parte, vimos Jesus e Paulo dando-nos permissão para sentirmos o pesar. Agora perguntamos: “Mas o que eu faço com a minha dor durante as festas?”. Shakespeare diz: “Coloque o sofrimento em palavras”. A Palavra de Deus é o modelo para esse princípio – temos que sair da negação para a sincera honestidade sobre a dor que as lembranças podem trazer durante a época das festas.

“Não fale sobre ele!”

Enfrentei minha primeira experiência com a morte de um ente querido quando eu tinha dez anos. Meu avô faleceu inesperadamente em um dia frio de neve, no início de dezembro. Duas semanas depois, a família reuniu-se na casa da minha avó para as festas de final de ano. Mesmo tendo dez anos, pareceu-me estranho que ninguém se atrevesse a mencionar “moshe” – avô em romeno. A admoestação muda era: “Se não mencionarmos o nome dele, não sentiremos a dor”. 

O problema da negação

A mulher sunamita e infértil de 2Reis 4 nos dá uma visão do problema da negação. Depois de anos de infertilidade, ela gerou um filho que completava uma vida toda de esperanças e sonhos. Tragicamente, ele morreu. A vida lhe enviou dois caixões: o primeiro, sua inabilidade de conceber; o segundo, a morte do filho que ela finalmente havia tido.

Ao invés de encarar sua perda, ela repetia consigo: “Está tudo bem”. Seu coração estava ferido e sua alma aflita. Ainda assim, ela continuava a insistir: “Está tudo bem. Está tudo bem”.

Você já esteve nessa situação? Já fez isso? Eu já. Fingir e mentir. Mas não podemos brincar de faz de conta para sempre. Em algum momento as coisas transbordam como aconteceu com aquela mulher sunamita, que finalmente gritou para Eliseu: “Não te disse para não me dar falsas esperanças?”. A negação recusa-se a ter esperança novamente, a sonhar novamente.

A esperança que se retarda deixa o coração doente (Provérbios 13.12). Esperar, receber e perder de novo, torna o coração mortalmente doente, frágil e carente. Odiamos estar nessa situação, e então a bloqueamos. Ficamos amortecidos ao nos recusarmos a ter esperança, ansiar ou sofrer, pois o sofrimento nos expõe como pessoas carentes que somos.

O problema é que Deus nos fez seres que anseiam, que são sedentos, famintos e têm desejos. Então, seguimos um trilhão de estratégias diferentes para amortecer nossos desejos e abafar o grito de dor de nossa alma. Mas nada disso funciona.

A negação é como uma tentativa de manter uma bola de praia submergida no assoalho do oceano. Não podemos fazer isso. Como aconteceu com a mulher sunamita, a dor força seu caminho até a superfície, inevitavelmente, e ela só piora pela nossa recusa de encará-la.

Fazer o jogo da negação durante o Natal é particularmente difícil. Um milhão de lembranças vêm à nossa mente. As tradições que compartilhamos, as fotos de família, a cadeira vazia. Se não tomarmos cuidado, gastaremos toda a nossa energia na tentativa de manter a bola de praia afundada e não sobrará muito para aqueles queridos que estão conosco agora.

O benefício da sinceridade

A sinceridade encara corajosamente a dor da perda. Como Davi faz no Salmo 42.3-5, quando provocado por suas lembranças de dias passados:

Minhas lágrimas têm sido o meu alimento de dia e de noite, pois me perguntam o tempo todo: “Onde está o seu Deus?”  Quando me lembro destas coisas choro angustiado. Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão à casa de Deus, com cantos de alegria e de ação de graças entre a multidão que festejava.   Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim?

O Apóstolo Paulo não nos disse para não sofremos; ele nos diz para não sofremos sem esperança (1Tessalonicenses 4.13). Ele escolheu uma palavra grega que significa pesar, aflição, tristeza ao experimentar a dor, a opressão e a aflição interior. Paulo ensinou que o sofrimento é a graça da recuperação, pois o luto diminui aos poucos para que a vida seja encarada. Sem sofrimento não há cura. Conhecendo o sofrimento, conhecemos a cura.

A única pessoa que verdadeiramente ousa sofrer, ousa suportar o sofrimento, é aquela que tem esperança de que no futuro as coisas irão finalmente melhorar. Quando confiamos no bom coração de Deus, então confiamos nEle não importa o que aconteça. Não precisamos fingir. Podemos encarar e abraçar os mistérios da vida.

Uma boa amiga minha fornece um lindo e poderoso retrato do sofrimento sincero com uma esperança obstinada.

Agridoce é a palavra que uso com frequência. A cadeira vazia do meu marido e a falta do seu sorriso são realmente difíceis de aguentar. As lágrimas rolam com frequência e as pessoas nem sempre entendem o quanto isso ainda dói.  Meu pai faleceu em 1998 e todos os meus avós, e os avós de meu marido, já tinham falecido também. Acho que não chorei de verdade por eles durante anos, só tive lembranças saudosas e tristeza. Nos últimos dias, porém, eu me senti devastada pela saudade deles! O sofrimento é um companheiro muito estranho! Mas a parte boa é saber que eles estão todos no Lar junto com nosso Salvador e eu TENHO a ABENÇOADA ESPERANÇA de vê-los de novo, e compartilhar todos os bons momentos que aconteceram desde que eles nos deixaram! 

O resto da história

Algumas pessoas podem dizer com certeza: “Mas eu não sou de falar”.  Ou podem perguntar: “As pessoas não são diferentes na forma de expressarem o sofrimento?”. Ótimo, é fato. Então, que tal algumas sugestões práticas para a sinceridade? Este será o foco da terceira parte. Quão honestas as pessoas devem ser durante as festas?

Pense nisso

Que palavras você usaria para a sua dor durante as festas?

Clique aqui para fazer o download de todo a reflexão (via Issuu)

 

  1. Aída

    Mesmo que não consigamos colocar um sofrimento tão grande em palavras inteligíveis, devemos insistir na cura, pela ação consoladora de Cristo. Excelente texto!

Deixe um Comentário