Por Bob Kellemen

Nona Parte

No Natal, alegramo-nos no Emanuel – Deus conosco. Jesus deixa o céu para montar sua tenda em nossa vizinhança, para invadir nosso mundo.

A história eterna de Deus invade nossa história terrena

A cura para o Natal requer nossa permissão para que a história eterna de Deus invada nossa história terrena. Uma de minhas amigas mais queridas da igreja gosta de dizer: “Quando a vida aborrece, nossa visão arrefece”. Ela acertou na mosca.

Quando as festividades chegam e nós sofremos pela perda de um ente querido, quando sentimos a dor pelos quilômetros que nos separam de nossos parentes imediatos, quando agonizamos por causa de um divórcio que espalhou a família em várias direções, é natural que o nosso foco esteja exclusivamente em nossa dor.

Não é algo somente natural, pois há um processo sobrenatural envolvido nisso – um processo sobrenatural diabólico. Da mesma forma que podemos usar a fotografia digital para colocar em nossas fotos ou remover delas o que quer que queiramos, Satanás também procura remover Cristo do nosso campo de visão.

Quando a vida aborrece e nossa visão arrefece, precisamos colocar Cristo de volta em nossas cenas. Precisamos expandir nossa visão para a perspectiva eterna de Deus.

Veja nisso algum plano superior

Nossa visão apaga-se por causa do desespero, e precisamos dos olhos da graça. Precisamos nos agarrar a outra forma de olhar para a vida. A forma bíblica é entregar-se com confiança aos propósitos mais elevados de Deus, Seus planos bondosos e Sua perspectiva eterna.

Devo ver a vida com olhos espirituais, ao invés de vê-la com meus olhos carnais somente. Devo olhar para meu sofrimento não com minhas lentes cor-de-rosa, mas com os olhos da fé; não com olhos vesgos, mas com uma visão espiritual perfeita.

Há uma cena incrível no filme Os Miseráveis na qual Jean Valjean, um prisioneiro em condicional, aproveita-se de um bispo cheio de graça. Depois de o roubar, Jean Valjean é capturado pela polícia francesa. Eles o levam de volta ao bispo, esperando que este acuse Valjean, o que o levaria de volta à prisão sem esperança de condicional. Para surpresa de todos os envolvidos o bispo diz: “Mas meu irmão, você esqueceu esses”. E lhe entrega dois candelabros de prata.

Todos ficam de boca aberta quando ele diz: “Pelas testemunhas e mártires, pela paixão e pelo sangue, sua alma foi resgatada para Deus. Agora, comece a ser um homem honesto. Veja nisso algum plano superior”.  Valjean, surpreendido pela graça, transformado pela graça, finaliza a cena cantando “Uma outra história deve começar!”.

Um amigo meu, contando-me essa história novamente, comentou: “Agora, qualquer coisa que me aconteça faz-me buscar o plano mais elevado de Deus. Eu coloco meus pensamentos nas coisas superiores – sempre pensando o que Deus deve estar tramando com isso. Para mim, outra história deve começar – a história de Deus que não elimina a minha história de sofrimento, mas que dá a ela um sentido”.

A história de José: narrativas da graça

Em sua dor durante o Natal, ouça as palavras de José para seus irmãos amedrontados em Gênesis 50.19, 20: Não tenham medo. Estaria eu no lugar de Deus? Vocês planejaram o mal contra mim, mas Deus o tornou em bem, para que hoje fosse preservada a vida de muitos.

No original hebraico, José usa o verbo “planejar” para se referir os planos dos irmãos e também aos propósitos de Deus. O termo hebraico tem um sentido bem tangível de tecer, entrelaçar fios como que para obter um tecido e transformá-lo em um manto, quem sabe algo como o manto colorido de José.

O Antigo Testamento usa essa palavra também com uma conotação negativa, metafórica, que sugere um enredo malicioso ou o maquinar de um esquema cruel. Outras vezes, os judeus usavam o mesmo verbo para falar simbolicamente da criação de algum propósito ou resultado novo e lindo obtido pelo tecer de eventos que pareciam acidentais, frutos do acaso ou de má intenções.

“A vida é má”, José admite. “Vocês tramaram o mal contra mim. Vocês planejaram estragar ou arruinar algo maravilhoso.”

“Deus é bom”, José insiste. “Deus tornou o mal em bem”, diz José, escolhendo a palavra “bem” que é o superlativo de agradável, belo. Isso significa que Deus tramou criar uma beleza incrível a partir do que pareciam cinzas inúteis para aqueles que sofrem (Isaías 61.3).

A vida fere. As feridas penetram fundo. Sem as narrativas da graça, a desesperança e a amargura afloram. Com uma narrativa da graça, a esperança e o perdão afloram e a visão amplia-se.

Ao invés de nossa visão arrefecida, o sofrimento é exatamente a época em que devemos prestar mais atenção, quando devemos nos inclinar para ouvir o sussurro de Deus. É verdade que Deus grita para nós em nossa dor, mas Suas respostas, tal como aconteceu com Elias, chegam frequentemente a nós como sussurros em meio aos trovões do mundo.

Deus cura as nossas feridas à medida que visualizamos um futuro, mesmo quando tudo parece perdido no presente. Através da esperança, nós nos lembramos do futuro, passamos da sexta-feira da paixão para o domingo de Páscoa enquanto ainda vivemos no sábado. As narrativas da graça apontam o caminho para a história mais ampla de Deus, assegurando-nos que nosso Salvador é digno de nossa espera.

O resto da história

Estamos próximos ao fim de nossa jornada juntos rumo à cura. Na décima parte, a parte final de nossa série da Cura para o Natal, consideraremos a adoração. Como podemos encontrar a Deus mesmo quando não conseguimos encontrar as respostas?

Pense nisso

Como você pode colocar Cristo de volta nas cenas do seu álbum desta época de festas?

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