O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra; e isso cortou-lhe o coração. Disse o Senhor: “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais grandes, os animais pequenos e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito. A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência.” (Gênesis 6.5-8 NVI)

Será possível encontrar palavras mais gráficas, específicas e inclusivas do que essas?

O Senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal.

Imediatamente depois, lemos o que pode ser a passagem mais triste de toda a Escritura.

Então o Senhor arrependeu-se de ter feito o homem sobre a terra; e isso cortou-lhe o coração.

O que torna esta passagem tão gráfica e tão triste? Eu estou profundamente convencido de que nós só poderemos compreender o significado desta passagem se compreendermos a intenção original da criação de Deus e o quanto esta descrição se desviou da mesma. Vamos dar uma olhada:

Você e eu fomos criados para amar a Deus. Fomos programados para viver em um relacionamento íntimo com o Criador que seria capaz de moldar todas as nossas motivações, desejos, escolhas, palavras e ações. Se, a qualquer momento, você me perguntasse porquê estou fazendo algo, eu responderia “porque eu amo ao meu Deus”.

Por que você fala com o seu cônjuge da maneira como você fala? Porque eu amo ao meu Deus. Por que você trata seus filhos da maneira como trata? Porque eu amo ao meu Deus. Por que você gasta o seu dinheiro da maneira como gasta? Porque eu amo ao meu Deus. Por que você organiza sua vida da maneira como você organiza? Porque eu amo ao meu Deus.

Amar a Deus era o plano. Nós fomos criados para reconhecer a Sua existência, Sua grandeza e Sua autoridade. Em atos de profundo amor pessoal, nós escolheríamos servi-lO com todo o nosso tempo e energia, e isso não seria um fardo. Nós obedeceríamos por causa do nosso amor pessoal por Deus. Porque nós amamos o Deus legislador, nós encontraríamos alegria nas Suas leis. Nós encontraríamos alegria em servi-lO e em permanecer dentro de Seus limites. Esse era o plano.

É muito claro que algo deu terrivelmente errado. Amar a Deus não mais governava o coração do homem. Há algo, no entanto, que é importante entender – Gênesis 6.5-8 não sinaliza o fim do amor no coração humano. Os seres humanos nunca pararam de amar. Cada ser humano está programado para amar. A questão é: qual é o amor que governa o seu coração?

No mais profundo nível de sua existência, você ama, e você ama ou a Deus ou a você mesmo. 2Coríntios 5.15 diz, E ele morreu por todos para que aqueles que vivem já não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou.

A única coisa que sempre substitui o amor por Deus é o amor por si mesmo. A única coisa que sempre leva a uma interminável lista de maldades é o amor por si mesmo. Eu e você sempre encontramos uma maneira de nos inserir no centro do nosso mundo. Nós somos obcecados pela nossa vontade; nós queremos ser soberanos sobre nossas próprias vidas; nós queremos estabelecer as regras; nós somos viciados pelo nosso próprio prazer e felicidade.

O que torna o casamento tão difícil? Você tem dois indivíduos que amam a si mesmos e, rapidamente, este amor próprio vai se transformar em conflito. O que torna a paternidade tão difícil? Você deu à luz a crianças que amam a si mesmas e, assim que você começar a estabelecer regras e a ir contra os desejos delas, esse amor próprio vai se transformar em conflito.

Cada ato de assassinato e violência está enraizado em amor próprio. Cada momento de ganância está enraizado em amor próprio. Cada fofoca e calúnia estão enraizadas em amor próprio. Cada desejo adúltero está enraizado em amor próprio. Em Gênesis 6, o mundo havia se transformado em um caos porque o amor próprio governava o coração de cada homem, mulher e criança. E esse mesmo amor próprio ainda está governando hoje; basta você ver as notícias.

É por isso que o coração do Senhor estava entristecido. A Sua linda criação, projetada para viver em um eterno relacionamento amoroso com o seu Criador, O havia traído. Quando lemos essa passagem, é possível ver as lágrimas nos olhos de Deus. Nós podemos ouvir o choro em Sua voz. Essa traição adúltera é extremamente pessoal para Deus.

Como Deus respondeu a essa traição final? A história não hesita em nos dizer. Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais grandes, os animais pequenos e as aves do céu. Arrependo-me de havê-los feito.

Deus já tinha visto o suficiente. Ele amorosa e pessoalmente projetou cada elemento da criação para prover a humanidade com tudo de bom que ela poderia querer e que nunca poderia construir por si mesma. E, mesmo assim, ela traiu o Seu amor. Então, num ato de santa justiça – não de terrível vingança – Deus mandou as águas do dilúvio para limpar a Terra. Deus tinha todo o direito de destruir a raça humana.

Parece ser uma trágica história, não parece? Graças a Deus, a história não termina aqui. Gênesis 6 tem o versículo 8: A Noé, porém, o Senhor mostrou benevolência. Em um ato de soberana graça, Deus mostrou benevolência a Noé e a sua família. Noé não era merecedor, mas Deus foi zelosamente amoroso.

Se você ler depois da aliança que Deus faz com Noé (Gênesis 9.1-17) até as genealogias dos filhos de Noé, você vai encontrar um nome familiar: Abrão (11.26). Deus mudou o nome de Abrão e fez uma aliança com ele, prometendo abençoar todas as nações da Terra (22.18). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo nos alerta para o fato da semente de Abraão ser Jesus Cristo (Gálatas 3.16).

É sobre isso o que trata o Advento. Deus estava profundamente triste com a traição da Sua criação, porém, motivado por um amor ainda mais profundo. Em vez de mandar o dilúvio para destruir a Terra, ele mandou o Seu Filho para ser exposto a todas as duras realidades da vida em um mundo caído. Apesar das dores e tentações diárias, Jesus viveu de maneira perfeita para prover o sacrifício final que nós nunca poderíamos prover. Ao fazer isso, Ele pagou o preço do pecado por completo, atenuando a ira de Deus e restaurando a esperança para todo o universo.

Esse trabalho redentor do Messias é tanto um evento quanto um processo. Pelo seu trabalho na cruz, o poder do pecado foi para sempre quebrado. Ele fez um espetáculo público do inimigo, triunfando sobre ele. Nós não precisamos mais viver sob a escravidão do pecado, mas a batalha ainda existe, pois a presença do pecado permanece. Está sendo erradicada pela graça santificadora, mas é um processo em andamento.

Então, quando você refletir em Gênesis 6, você precisa ser honesto. Há momentos em que os seus pensamentos são moldados pelo amor a Deus… Mas nem sempre. Há momentos em que as coisas que nós desejamos provêm de um coração que ama ao Senhor… Mas nem sempre. Há momentos em que agimos de acordo com um coração puro que ama a Deus… Mas nem sempre. Eu e você demos evidências concretas essa semana de que a luta do amor ainda existe em nossos corações.

Nesta estação do Advento, você precisa abraçar a triste realidade de que o seu coração ainda é propenso a trair ao Senhor. Você se ama todos os dias. Porém, o Advento é também uma gloriosa celebração da nossa esperança, representada por um bebê, numa manjedoura, que veio numa missão de resgate e libertação. Chegará o dia em que cada pedacinho do pecado será destruído e cada célula de nossa alma será controlada pelo amor a Deus. Anseie por este dia, pois quando ele chegar, nunca acabará. Você viverá dentro dos limites de Deus e viverá para Sua glória para todo o sempre.

Questões Para Refletir

1 – Quais coisas entristecem o seu coração? As mesmas coisas que entristecem o coração do Senhor trazem tristeza ao seu coração?

2 – Você luta para tornar o seu relacionamento com Deus mais pessoal? Um relacionamento mais íntimo com Deus mudaria a sua maneira de viver?

3 – De que maneira, durante essa semana, você permitiu que o seu amor por si mesmo substituísse o amor por Deus? Qual foi o resultado disso?

4 – De que maneira, durante essa semana, você morreu para si mesmo e agiu por amor a Deus? Qual foi o resultado disso?

 

Devocional desenvolvido por Paul Tripp. Publicado sob autorização de Paul Tripp Ministries. Para o original, clique aqui. Traduzido por Karen Zambelli.